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quarta-feira, 26 de fevereiro de 2020

𝑨𝒄𝒊𝒅𝒆𝒏𝒕𝒆 𝒏𝒂 𝒍𝒊𝒏𝒉𝒂 𝒅𝒐 𝑻𝒖𝒂 – “𝑴𝒊𝒔𝒔ã𝒐 𝒅𝒖𝒎𝒂 𝒗𝒊𝒅𝒂” … 𝒗𝒊𝒗𝒊𝒅𝒂 𝒏𝒂 𝒑𝒓𝒊𝒎𝒆𝒊𝒓𝒂 𝒑𝒆𝒔𝒔𝒐𝒂. Parte 2

...A missão duma vida (2ªparte) - Clique aqui para ver a 1ª parte

"Dos fracos não reza a história" e não reza mesmo. Nunca esta frase fez tanto sentido como aquilo que se iria passar durante a semana durante as buscas às restantes vítimas.

Segunda-feira, para nós, foi um dia calmo para descomprimir das emoções fortes dum domingo cheio de ação e perigos mas com a sensação de missão cumprida ainda muito presente. Reunimo-nos no sítio do costume depois do almoço para conversar e colocar as ideias em ordem. Outra tripulação assumiu as buscas durante o dia e entretanto já tinham recuperado um dos corpos junto ao comboio ficando a faltar o revisor e o maquinista mas com a corrente forte do rio eram difíceis senão impossíveis buscas ao longo do rio.

No dia seguinte e apenas com um elemento novo na tripulação, recuperador salvador, arrancamos manhã cedo de Santa Comba Dão com destino ao rio Tua para tentarmos encontrar as duas vitimas que faltavam porque tinham cortado o caudal do rio numa barragem e era agora possível ter mais visibilidade nas margens onde possivelmente o corpo estaria. De facto assim foi e ainda durante a manhã o meu "olho de falcão" detecta um corpo submerso numa margem encostado a umas pedras. Tratava-se do revisor do comboio. Entramos em voo estacionário e através da operação de guincho recuperamos o corpo e sem entrar no helicóptero foi colocado junto às equipas de resgate que se encontravam na linha do comboio. Fizemos mais vários voos durante o dia mas não foi possível avistar o corpo que faltava, o maquinista da composição.

Entretanto a meteorologia começou a se degradar e fomos desmobilizados com regresso imediato a Santa Comba Dão. A viagem de regresso começou bem embora com fraca visibilidade mas que com o passar do tempo foi piorando. Por razões de segurança o João Lima optou por aterrarmos no parque de estacionamento dum restaurante e esperamos que a meteorologia melhorasse para regressarmos à base. Aterramos em segurança só que para nosso desgosto o restaurante estava encerrado o que não impediu o João Lima de ir bater à porta. Fomos todos atrás dele e ele bateu à porta. Surgiu um senhor muito admirado por ver um helicóptero estacionado no local dos carros mas muito atencioso falou connosco mas o melhor estava para vir, o senhor era gago e muito. O João Lima fazia várias caretas para tentar perceber o que o senhor dizia e complicou-se ainda mais quando olhava para nós e estávamos todos quase a rebentar de riso. Depois de agradecer ao senhor voltou-se danado para nós porque em vez de o ajudarmos estávamos todos no gozo mas ele próprio depois se desmanchou a rir e começou a falar connosco a gaguejar. Por fim a meteorologia deu tréguas e entre risos, gargalhadas e muito gaguejar lá fomos de regresso à base para mais um descanso merecido.


No dia seguinte o helicóptero já não foi requisitado e ficámos todos em modo de espera na base. Também as buscas desse dia não permitiram encontrar a última vitima tendo sido suspensas durante a noite.
Voltámos a comparecer na base no outro dia pelas 8 da manhã mas continuávamos em terra. Segundo informações que obtivemos as buscas estavam agora a ser efectuadas junto às margens por mergulhadores dos bombeiros. Voltámos à boa disposição do costume com cafezinhos e algumas anedotas com conversas da treta. Subitamente somos interrompidos pelo telefone da base com um telefonema do CNOS a pedir a saída urgente do HOTEL1 para o rio Tua porque tinha acabado de haver um acidente com os mergulhadores dos bombeiros. Como estava tudo pronto a descolagem foi ao minuto e à velocidade máxima prosseguimos para o local.
Já na aproximação e via rádio fomos informados que um cabo de aço que se encontrava entre as duas margens e que permitia que os mergulhadores se agarrassem para vistoriar as margens partiu e arrastou vários mergulhadores não se sabendo qual a situação ou localização dos mesmos.
A opção passou por iniciarmos um voo rasante a subir o rio na esperança de os encontramos rapidamente e assim foi. Numa zona em que o rio tinha poucas curvas avistamos um mergulhador no meio do rio a ser arrastado mas já em sérias dificuldades. Como o rio ali era muito apertado e não permitia rodar o helicóptero o João Lima faz uma das manobras mais fantásticas a que já assisti e que muitos poucos pilotos a conseguiriam executar. Passou por cima do mergulhador e iniciou uma manobra de subida agressiva a sair do rio tipo "stall turn" e depois desce para o rio mas já no sentido inverso e a voar baixo já direito ao mergulhador mas agora a acompanhar a descida do rio. Como um problema nunca vem só o rio uns metros à frente fazia uma curva de quase 90º não permitindo o resgate e morte quase certa do mergulhador contra as rochas. De imediato O João Lima manda o operador de guincho colocar o recuperador fora do helicóptero e a descer visto só termos uma oportunidade ou ele ia ter morte certa. Quando olhei pelo meu espelho nem queria acreditar, tinha o recuperador a descer de cabeça para baixo e a parede cada vez mais perto. De repente vejo o recuperador a conseguir agarrar pela cabeça o mergulhador e a tira-lo da água e o João a travar o helicóptero porque mais uns metros e tínhamos a parede.
Já dentro do helicóptero percebemos que o mergulhador se encontrava inanimado tendo o recuperador iniciado manobras para o recuperar enquanto voávamos para a estação de comboios do Tua onde estava o pessoal do INEM. Quando aterramos já ele se encontrava consciente para nossa alegria tendo sido levado para observação.

Enquanto estamos a deixar a vítima fomos informados de que ainda faltam mergulhadores arrastados. Voltamos de imediato ao rio e sempre a subir acabamos por avistar dois mergulhadores nas margens do rio. Um deitado inanimado numa rocha e o outro junto dele em pânico e a chorar compulsivamente. Entramos em estacionário e voltamos a descer o recuperador apenas com a mochila de primeiros socorros. Neste momento passamos a espectadores numa guerra que o recuperador faz entre a vida e a morte a tentar reanimar o mergulhador. A determinada altura pede a maca SAR, coloca com a ajuda do outro mergulhador a vitima na maca e é resgatado para o helicóptero. Já dentro do helicóptero continua com as manobras de reanimação e para alegria de todos nós ele abre os olhos e tosse embora muito debilitado. Voltamos à estação e entregamos a vítima ao INEM. A nossa adrenalina estava no máximo num misto de alegria e alegria por eles estarem bem. Acabamos por ficar por ali e fomos visitar à tenda os dois mergulhadores que curiosamente estavam revoltados connosco "porque razão não estávamos ali para os socorrer em vez de estarmos estacionados em Santa Comba Dão". Explicamos que como eles cumpríamos ordens e após tudo esclarecido ficámos todos amigos.
Após mais um dia, e que dia, voltamos à base e para as nossas famílias que segundo nós é sempre a parte mais importante da missão.

Chega então o último dia de buscas, o 7º dia, e era o tudo por tudo. Faltava encontrar o corpo do maquinista para que a missão ficasse completa e a família pudesse fazer o funeral e o luto. Após vários voos efectuados e sem avistar nada ficamos à espera do fim do dia para regressar. Antes do regresso à base decidimos fazer um último voo a subir o rio até ao local do acidente e depois descer e regressar a casa. Foi a decisão do dia. O João Lima voou o helicóptero até ao local do acidente e passou-me os comandos para eu descer o rio e voar de regresso a casa. Após pouco tempo de ter iniciado a descida do rio pareceu-me ver algo estranho na água. Parei o helicóptero e recuei um pouco. Pedi ao operador de guincho que visse o que é que estava encostado na margem no meio das pedras. A euforia instalou-se de imediato na tripulação, era o corpo do maquinista e o que eu tinha visto era parte do tronco e o cinto. Iniciamos de imediato a recuperação do corpo da água e sem entrar dento do helicóptero foi colocado na linha do comboio onde já se encontravam várias pessoas pois tínhamos avisado via rádio que tínhamos localizado o corpo da última vítima.

O sentimento de missão totalmente cumprida era agora um misto de alegria, tristeza pela morte das pessoas mas principalmente de alívio.



O Dr. Jorge Gomes, na altura Governador Civil, decidiu reunir todos os elementos de proteção civil na estação do Tua para um agradecimento público pelo empenho de todos. A chuva entretanto começou a cair com alguma intensidade mas ninguém arredou pé. Os únicos que estavam abrigados da chuva era a tripulação do HOTEL1. Nisto o Dr. Jorge Gomes pede a que um elemento da tripulação vá para o palanque representar o meio aéreo. Nisto sinto um empurrão nas costas e sem que pudesse evitar estava no meio da estação. Tinha sido o João Lima a empurrar-me e ainda o ouvi dizer: "Vai lá Joãozinho que tu é que és jornalista e tens jeito para isso". Acabei por ficar também no palanque a dividir a chuva com os restantes mas sempre com o apoio da tripulação do HOTEL1 que não paravam de fazer sinais de OK e riam desalmadamente.
A chuva acabou por atrasar o regresso à base tendo nós todos optado por jantar umas belas enguias num restaurante junto à estação com o dono do restaurante sem sair de junto de nós a contar histórias de pessoas que tinham morrido trucidadas pelo comboio ao longo dos anos.
Finalmente e já de noite iniciamos o regresso à base mas tivemos de divergir para o aeroporto do Porto para reabastecer o helicóptero pois o tempo extra para a recuperação e o mau tempo exigia que por razões de segurança tivéssemos um alternante caso não conseguíssemos aterrar em Santa Comba Dão.
O comandante João Lima era um piloto muito acima da média e um homem com o "H" muito grande. Até hoje continuo a acreditar que só ele era o único comandante capaz de efetuar uma missão daquelas. Estejas onde estiveres "Joãozinho" eu sei que continuas a olhar por nós.

"ATÉ SEMPRE TRAINER"

13 comentários:

  1. Eventi dolorosi che segnano la storia di un paese.
    Immagini straordinariamente belle,molto apprezzate.
    Buona domenica,silvia

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  2. Um descrição impressionante com detalhes que emocionam o leitor
    Um feliz domingo Rui
    Beijinhos

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  3. Grata pela segunda parte, deste impressionante relato!...
    De facto... não se tem a noção do perigo constante que correm estes grandes profissionais... pilotos... mergulhadores... sabes... é quando vejo estes relatos assim... de pessoas que arriscam a vida todos os dias, pelos outros... que fico revoltada com os milhões que são canalizados para outras áreas, que não fazem muito pela sociedade, nem pelos demais... desculpa... mas pagar-se milhões e milhões a jogadores de bola... que tudo o que fazem é para bem do seu próprio ego, e conta bancária... acho inconcebível... muito mais valor, incomparavelmente, têm estes heróis anónimos... mas que em remuneração e reconhecimento público... jamais são devidamente valorizados...
    Beijinho! Boa semana, para ti e os teus!
    Ana

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  4. Você é maravilhoso em fotos e imagens. Bom carnaval.

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  5. Uma descrição emocionante. Obrigada por partilhar connosco!
    -
    Quando a saudade aumenta...
    -
    Beijos. Bom Carnaval, e uma excelente semana!

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  6. Eu como nas Sopas dos pobres tudos dias em portugal! TUDOS!! Muita pobresa agora, nao trabalhos, miseria total. E que disse no goberno? Nada! Ajuda portugal, ajuda agora mesmo por que nao trabalhos e mais do 50% da pessoas nas Sopas Dos Pobres tudos dias, sempre! Ajuda, ajuda, ajuda portugal, ajuda!!!!

    E nao peixe o bacalhau dourado em sopas dos pobres!!!

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  7. Uma 2ª parte muito bem descrita e onde cada situação é narrada de forma muito pormenorizada.
    No meio de tanta desgraçada, há sempre um ou outro episódio de humor. Estou a lembrar-me do dono do restaurante, que era gago.

    Felizmente que todos os corpos foram encontrados. Parabéns ao trabalho e perícia de todos vocês e especialmente ao profissionalismo do comandante João Lima.

    Uma atitude de louvar a do Governador Civil.

    As fotos estão muito reais, nítidas e mostram-nos bem o que foi essa dura operação.

    Beijinho, Rui!

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  8. Boa tarde Rui,
    Uma bela reportagem de momentos trágicos por que passaram todos os intervenientes e que quase nunca chegam ao grande público com esse rigor.
    A minha admiração e agradecimento a todos esses heróis que dão a vida para salvar vidas.
    Um beijinho.
    Ailime

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